Fonte: UOL
Pauta: Ciência
Redação: André Carvalho
Pernilongo, muriçoca, carapanã, borrachudo. Mudam os nomes, mudam as espécies, só não muda o desejo de se livrar destes pequenos (e incômodos) insetos.
Presentes em regiões tropicais e subtropicais de todo o planeta, os pernilongos –do gênero Culex– diferem-se em ciclo de vida, habitat e anatomia do Aedes aegypti e também dos “borrachudos” (Simulium pertinax). Assim, nem tudo que atrai um seduz o outro: nem tudo que repele um afasta o outro.
Em tempos de zika, dengue e chikungunya, transmitido pelo Aedes, nunca é demais ressaltar os cuidados para evitar suas picadas.
Receptores diferentes, químicos diversos
O que faz uma espécie de inseto ser atraída ou repelida por determinado composto químico depende das antenas de cada inseto.
“É na antena dos insetos que se localizam os receptores que vão ditar se aquela espécie de inseto é atraída ou repelida quando entra em contato com algum composto químico”, explica o entomologista Rafael Freitas, da Fiocruz.
Além da questão anatômica dos insetos, o ciclo de vida e o lugar em que vivem são fatos relevantes para saber com quem estamos lidando.
Se você for picado durante o dia, cuidado, pode ter sido vítima do Aedes aegypti. Já aqueles que incomodam nossos sonos costumam ser pernilongos.
Já o “período de atuação” dos borrachudos costuma ser do meio da tarde até o início da noite. Diferentemente dos pernilongos e do Aedes, borrachudos não são insetos urbanos, costumam se propagar em regiões de
mata.
Que repelentes funcionam para quais insetos?
De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Saúde), há três princípios ativos registrados nos repelentes industriais: o DEET (n,n-Dietil-meta-toluamida), o IR3535 e a Icaridina.
Os três compostos químicos são eficazes contra pernilongos e borrachudos, no entanto, apenas os químicos à base de icaridina são eficientes contra o Aedes aegypti, explica Nancy Bellei, infectologista da Unifesp.
A infectologista explica que os demais repelentes industriais ou fazem pouco efeito sobre essas espécies de mosquitos ou têm concentrações muito baixas dos produtos ativos permitidos no Brasil.
Natália Werneck, pesquisadora da Fiocruz, explica que há estudos nos Estados Unidos que comprovam que houve uma adaptação por parte do Aedes aegypti ao DEET, já que esta substância já está no mercado há 60 anos.
“Produtos à base de icaridina, por outro lado, são relativamente novos no mercado”.
E os repelentes naturais? “Os repelentes naturais agem por cerca de 20 minutos e evaporam; os repelentes industriais têm duração um pouco maior, mas apenas aqueles à base de icaridina ou picaridina funcionam realmente contra o Aedes”, diz Bellei.
Repelente ou inseticida?
“O repelente não resolve o problema. Ele vai afastar o mosquito de perto de você. Mas e aí? Esse mosquito uma hora vai estar com fome de novo.”, lembra o entomólogo da Fiocruz.
O entomologista explica a diferença entre os repelentes corporais industrializados e os inseticidas –normalmente encontrados em formatos de aerossol– cujo princípio ativo é a permetrina.
“Geralmente, essas latas que vendem em supermercados são inseticidas, para matar. E a gente tem os fumacês que também servem para matar os pernilongos. O resto, citronela, cravo, borra de café, são
repelentes.”
Ventilador ou ar-condicionado
Há quem use ventiladores como forma de afastar mosquitos. O vento, criado pelos aparelhos, atrapalha o voo dos insetos. No entanto, Freitas enfatiza que a solução é pontual: “só espanta na hora que bate o
vento”.
Já a utilização do ar-condicionado, para ele, pode ter uma certa funcionalidade. “Os mosquitos ficam menos agitados nas temperaturas mais frias.” A temperatura ideal para isso seria entre 16ºC e 18ºC.
Crianças, bebês, idosos e gestantes podem usar o quê?
O uso de repelentes em crianças deve ser usado com moderação. “A pele da criança é mais fina e as substâncias acabam penetrando mais. Por isso, o uso de repelentes é indicado apenas para crianças acima de dois
anos. E, mesmo assim, o produto deve ser próprio para criança, que é menos tóxico”, afirma a dermatologista Carolina Marçon.
A recomendação da Anvisa para gestantes do primeiro ao terceiro mês de gravidez é o uso de repelentes à base de DEET –eles não são recomendados, por outro lado, para uso em crianças menores de 2 anos.
Já para crianças entre 2 e 12 anos a concentração dever ser de no máximo 10%, e a aplicação, restrita a três vezes ao dia.
Existem pessoas que atraem mais os insetos do que outras?
“A atração pelo inseto é determinada, principalmente, por uma predisposição individual genética, pois vai depender do cheiro que o corpo do indivíduo exala e das sustâncias químicas presentes no suor, como o ácido láctico. Essa predisposição varia por uma combinação de fatores, como a composição da pele, das condições metabólicas etc.”, diz Marçon.
Na mesma linha de pensamento, o entomologista Rafael Freitas afirma que o oxigênio e o ácido lático são dois compostos químicos que atraem “uma grande gama de insetos, incluindo o Aedes aegypti”.
“Se a gente imaginar que o ser humano exala o ácido lático e respira, inspirando e expirando, a gente está constantemente emitindo sinais químicos para os mosquitos dizendo: ‘tem um ser humano aqui'”.
Só repelir não adianta, o ideal é eliminar os criadouros
Apenas repeli-los, no entanto, não basta. O ideal é eliminar os criadouros. No caso do Aedes aegypti, nunca é demais lembrar, temos que evitar o acúmulo de água parada em vasos, calhas, etc.
Já para pernilongos e borrachudos, a tarefa é mais difícil. “O culex coloca ovo nessas coleções de água com grande quantidade de matéria orgânica. Às vezes uma língua negra ou um valão aberto, sujo, com muita matéria
orgânica acumulada”.
Para os borrachudos, mais integrados à natureza, no entanto, Freitas ressalta que “existem compostos químicos que são como larvicidas especificamente usados para combate a larvas de borrachudos”.